Dando continuidade aos diálogos a
respeito de Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, porém sem a
intenção de encerrar as discussões a seu respeito, a aula do dia 9 de novembro
se baseou no terceiro e último capítulo da obra, intitulado "Ensinar é uma
especificidade humana".
O primeiro ponto destacado foi a
autoridade na docência. Há inevitavelmente uma diferença cognoscente entre
professor e aluno e é justamente essa diferença que permite o processo
educativo, não devendo, portanto, ser negada ou omitida. Contudo, ela não deve
se opor à liberdade do aluno, necessária ao seu processo de tomada de decisões,
para que ele aprenda a fazer escolhas e a se responsabilizar pelas consequências
dessas escolhas. Nas palavras de Paulo Freire (1996, p. 105) “a liberdade
amadurece no confronto com outras liberdades”. A decisão é, então, um processo
responsável.
A liberdade traz autonomia. Ou
seja, a necessidade do exercício de poder, relacionado à autoridade, diminui à
medida que a autonomia do aluno é ampliada graças à sua liberdade. E para que a
autonomia do aluno seja trabalhada, é preciso que o professor a trabalhe
primeiramente em si mesmo. Os alunos percebem quando o professor não possui
autonomia, noção de seu posicionamento ideológico no processo educativo. O
exercício da liberdade supõe um grau de responsabilidade, que é imenso, mas que
precisamos assumir para que tenhamos autonomia.
Paulo Freire apresenta, em toda a
obra, o conceito de autenticidade, isto é, a coerência entre o que é dito e o
que é feito. Por isso, não podemos negar que a educação é um ato político, uma
forma de intervenção no mundo, porque é uma prática social. E na vida em sociedade
não é possível não ter posicionamento político, pois se assim vivemos é devido
ao processo de sociabilidade que constitui nossa humanização; o processo
político que torna os seres humanos em seres sociais.
Na discussão a respeito do item “ensinar
exige querer bem aos educandos”, foi pontuada dificuldade que o professor tem de
expressar sua afetividade e o senso comum de que a seriedade docente e a
amorosidade são incompatíveis, opostas. E na verdade elas não são. A amorosidade
apresentada por Paulo Freire não deixa de lado a autoridade docente, caso
contrário o aprendizado poderia até ser interrompido. Isso não significa que o
professor tem que se afastar e ser apático ao aluno, mas é preciso que fique
claro a posição e a função do professor na prática educativa. É preciso notar
que afetividade ocorre quando a prática docente afeta o aluno, e não é
necessariamente positiva. O grande problema é quando o professor não afeta o
aluno, a indiferença, o não causar nada.
Através do processo educativo é
possível, e necessário, visar a emancipação do aluno, para que ele tenha elementos para
enfrentar as desigualdades, as opressões, e lutar por uma sociedade menos injusta. A educação
exige depositar esperança no educando, acreditar que ele tem suas
possibilidades, que ele é capaz de causar mudanças. Além disso, essa prática requer
também a luta pelo respeito, pelo direito de ser respeitado. É necessário estar
disposto a ouvir. Se não há escuta do outro, não há outro, não há consideração de
que o outro é sujeito. A educação bancária é mais fácil, porque não é
comprometedora nem autêntica, características tão necessárias ao processo educativo
para que ele promova boas mudanças.
A didática, isto é, a forma de
trabalhar o conteúdo no processo ensino-aprendizagem, passa primeiro pela
ética, pelas escolhas que são feitas pelo educador. Assim, a didática de um
professor está relacionada a sua postura ética. Não podemos falar em didática
sem falar em formação humana do professor. As Categorias Freirianas (ética,
criticidade, autonomia, amorosidade, liberdade, desconstrução, esperança etc.) são
conceitos que nos permitem refletir nossa prática como educadores e, por isso,
são essenciais ao estudo da Didática.
Referência:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 40ª reimpressão. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Nenhum comentário:
Postar um comentário