As próximas aulas que aqui serão relatadas
se baseiam na discussão acerca de “Pedagogia da autonomia: saberes necessários
à prática educativa”, de Paulo Freire.
No dia 23 de outubro se iniciou uma
discussão a respeito das Categorias Freirianas, para a qual foi necessária a
leitura do primeiro capítulo do referido livro. As Categorias Freirianas analisam
o processo educacional à luz dos postulados de Paulo Freire, os quais ainda não
foram adotadas amplamente na pedagogia brasileira, apesar de serem muitos
referenciados em diversos países. Paulo Freire é o terceiro autor mais citado
no mundo, sobretudo em programas de pós-graduação na área de Educação, e no
Brasil ele passou a ser estudado mais profundamente apenas nos anos 2000.
O Capítulo 1, “Não há docência
sem discência”, propõe saberes essenciais à prática docente de educadoras e
educadores, independentemente de sua ideologia política e de seu posicionamento
na pedagogia conservadora ou progressista. Os conceitos discutidos a seguir não
são apresentados na mesma ordem que no texto de referência, e sim conforme a
discussão em sala de aula.
Primeiramente, quem ensina
aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender. O processo de ensino-aprendizagem
é dialético, é mútuo, uma vez que os educadores aprenderam socialmente ao longo
do tempo que era possível ensinar. Além disso, ensinar não é transferir
conhecimentos ou formar um corpo indeciso e acomodado. Portanto, não há
validade no ensino que não resulta o aprendizado, ou seja, no processo no qual
o educando não seja capaz de replicar em sua realidade o que foi ensinado.
No que diz respeito à experiência
e aos postulados de Paulo Freire sobre a alfabetização, especialmente de adultos,
foi mencionado que exercitar a leitura e a escrita é um exercício de
consciência crítica. As palavras devem ter sentido para quem aprende. Ao
aprender a escrever palavras utilizadas no cotidiano, os alunos discutem seus significados,
e assim significam valores e conceitos presente em suas vidas. Relacionando-se
a isso, foi apresentado o conceito de dialogicidade, isto é, se expressar e ser
ouvido e construir coletivamente o conceito do que se discute. Isso contribui
com a conscientização do sujeito a respeito da sua realidade e das suas opressões,
o reconhecimento da sua exploração, o conhecimento os seus direitos e a tomada
de posição, dando à prática educadora o sentido político.
Outro conceito citado na leitura
é o de curiosidade epistemológica, ou seja, a vontade de saber, a sede de
conhecimento, uma chama que o professor precisa manter constantemente acesa em
sua prática docente para instigar os seus alunos. Essa curiosidade deve ser rigorosa,
metodológica, se opondo à curiosidade ingênua do senso comum e exigindo a pesquisa.
A arte de ser professor é tornar-se desnecessário a partir de algum momento,
quando o aluno tem condições de aprender sozinho.
O termo “problematizar” parte do
ponto de vista que o ser humano é inconcluso e necessita de aprender. Problematizar
um conceito significa disseca-lo e exemplifica-lo no contexto do aluno: “o que
é isso que vivo?, “por que é assim?”, “como pode ser diferente?”. A problematização
pode ser o único meio que os mais desfavorecidos têm de reconhecer as diversas desigualdades
sociais e se assumir como sujeitos de sua própria história para que a mudança
seja efetiva.
Uma reflexão pontuada na leitura
diz respeito à relação teoria/prática. Sem essa reflexão a teoria pode ir
virando blábláblá e a prática, ativismo. Talvez a grande questão da atuação
docente é: “como articular a teoria e a prática?”. Uma prática sem fundamentos
teóricos resulta em um ofício sem saberes, e a complexidade da prática docente
não nos permite parar de estudar. Para entender melhor, o conceito de práxis
foi retomado: ação planejada, reflexiva, intencional. A intencionalidade não
pode ser desassociada da prática docente, pois há sempre o questionamento “para
quem e para que estou dando aula?”. Todo processo educacional é um ato
político, ato de tomada de decisões, ato de escolhas. As escolhas não são
apenas pedagógicas, são políticas. O tratamento para com o aluno, a forma como
a avaliação é abordada, a imposição do professor em sala de aula, entre outros
comportamentos, constituem posturas políticas.
Por fim, é preciso que nos eduquemos
para a emancipação do outro, para a sua desopressão. É preciso que o processo
educacional liberte o aluno e não o encaixe em gaiolas da sociedade. A autonomia
tem que vir primeiro do professor, que deve ter senso crítico, ter coragem de
se posicionar, de não silenciar determinados assuntos em sala de aula. E ao trabalhar
a autonomia no aluno, o professor permite que ele se torne um agente de mudança
na sociedade.
Referências bibliográficas:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 40ª reimpressão. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MONTESANTI, Beatriz. Paulo Freire é o terceiro pensador mais citado em trabalhos pelo mundo. Nexo Jornal, 04 Junho 2016.
Paulo Freire é o terceiro pensador mais citado em trabalhos pelo mundo
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/06/04/Paulo-Freire-%C3%A9-o-terceiro-pensador-mais-citado-em-trabalhos-pelo-mundo
© 2017 | Todos os direitos deste material são reservados ao NEXO JORNAL LTDA., conforme a Lei nº 9.610/98. A sua publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia é proibida.
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